sábado, 28 de julho de 2012

Greve nacional, por Alcino Ferreira Camara Neto da Universidade Federal do Rio de Janeiro


Caros colegas

Hoje não vou me dirigir apenas aos colegas em greve mas também a estrutura hierárquica de nossas universidades e a alguns entre nós que se tornaram mais realistas que o rei.
Em primeiro lugar, há que se observar que o rei está nu. A estrategia governamental de promover arrocho salarial como parte dos instrumentos de combate a crise está levando a deterioração dos indicadores de crescimento e a uma inédita mobilização no interior do serviço público federal que forçará, como veremos, a concessão de algum tipo de aumento e/ou abono quase que imediato.
Neste cenário surge nossa greve, tão obvia pelo descuido com que a panela de pressão das universidades foi sendo aquecida. Ela nos encontrou surpreendentemente unidos e falando uma mesma linguagem em toda a extensão hierárquica de nossas instituições. Conselhos universitários, reitores e conselhos acadêmicos se juntaram aos grevistas, suspendendo calendários acadêmicos, recusando-se a cortar ponto e emitindo notas de apoio.
O governo se fez de morto até que finalmente apareceu com uma proposta, recusada pela maioria por ser apenas salarial, basear-se em princípios que não ficaram claros no cotejamento das justificativas e dos números apresentados e não tocar na questão da infraestrutura e ser incapaz de perceber que o movimento docente poderia ser um aliado e não um obstaculo ao tão justo e desejado processo de expansão do sistema universitário público e gratuito. A proposta foi corrigida em alguns pontos e reapresentada e mais uma vez recusada por vasta maioria.
Todos sabemos que esta greve tem hora para acabar. Ela não poderá se estender além de 31 de agosto quando termina o período de envio da lei orçamentária ao Congresso Nacional e começa a ficar perigosamente provável a perda do período letivo. Somos docentes responsáveis, estamos na carreira por vocação e jamais permitiremos isto mas somos corajosos e não temos medo de esticar a corda ate o limite. Porque então neste momento, quando devemos seguir juntos, aparecem as vozes do medo travestidas de prudencia? Será ignorância ou covardia?
A nossa proposta de carreira é ousada, significa reverter a logica hierárquica do Estado Brasileira. Ela pressupõe que o trabalho é sempre coletivo e estruturado em grupos e o que distingue os indivíduos é seu tempo de experiencia. Isto vai de encontro a tudo que o estado brasileiro tem pensado sobre nós nas ultimas décadas. No entanto, o atual governo não apresentou uma proposta organicamente definida por seus parâmetros hierárquicos e de distinção pessoal mas algo amorfo. Precisamos de nossos dirigentes universitários para que construamos uma ponte entre estas duas concepções. Sabemos que a construção ideal é um processo que deságua na transformação do estado e da sociedade brasileira, mas podemos ter uma carreira que incorpore alguns destes parâmetros já.
A divisão neste momento é catastrófica e não pode ser aceita. Demonstra covardia e falta de visão e maturidade politica. Não é verdade que não há recursos e muito menos que se sai da crise poupando. Como podem ser aceitos argumentos tão toscos?
Peço que os colegas ocupando no momento posições hierárquicas nas estruturas de nossas instituições não sejam o cavalo de Troia desta divisão.
Por outro lado, sugiro ao movimento,que identifique os pontos nevrálgicos para a negociação e se concentrem nele. Acho que, considerando tudo que já conquistamos seriam os seguintes:
1. Linha única no contra-cheque. É nossa garantia maior e de nossos futuros aposentados
2. Reformatação da tabela apresentada dotando-a de uma logica de steps, mantendo teto aumentando o piso para o vencimento da categoria imediatamente superior.Isto não custará mais que um bilhão de reais
3. Redução para o prazo de vigência dos aumentos. Qualquer ganho é ganho. Se não conseguirmos tudo em 2013 que seja 2014.
4. Cronograma claro de resolução da injustiça com os aposentados
5. Apresentação de proposta, preferencialmente detalhada de recuperação e construção de infraestrutura adequada para o projeto de expansão do sistema universitário federal que todos desejamos.

Alcino Ferreira Camara Neto

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